| Ler para Ser

Há palavras.. ( 8ºC) .

Há palavras.. ( 8ºC) .

quinta-feira, 15 de novembro de 2012


Entrevista

 
Hoje vou  entrevistar o pajem do Fidalgo da obra “Auto da Barca do Inferno”, de Gil Vicente. Este pajem encontra-se no Purgatório há cerca de 500 anos e hoje vai-nos mostrar como era ser vítima do fidalgo Dom Anrique. Todavia, para isso terei de usar uma linguagem antiquada e adequada, de forma a ser compreendido pelo meu convidado.

 

PAGE Vindes vós o rio agitar,

          Com o batel que fretastes?

          Tão pouco vós já findastes…

EU     Venho pera vos entrevistar.

PAGE Minha boca já deu que falar,

EU     Que barca fostes escolher?

PAGE Oxalá tivesse tal prazer…

          Oxalá soubesse nadar…

          Ai! Ai! Pobre de mi.

          E de quem cá sobeja.

          Mas mal que passa pela igreja

          Só merece ficar assi.

EU     Ficar sentado aqui?

PAGE Que quereis que eu faça?

          Gracejar de cousa sem graça?

          Satanás?... Livra-te d’i!...


EU     Porque sentado aqui esperais?

PAGE Tirano era meu amo, sua senhoria

          Lhe herdei teimosa fantesia.

          Estou negado de algum cais.

          Vejo no Inferno temporais

          E no céu os meus aposentos.

          E vejo correr os tempos…

EU     Vai ao Anjo que demandais.

 
PAGE Essoutro meu amigo,

          Que mal me escuta… hu-hu!

Me livra de Belzebu.

          E me prometeu este castigo!

          Que do Inferno é meu abrigo!

EU     Pera vós, casa de dom Anrique?

          Tirando a de Moçambique.

PAGE Esse é meu inimigo…

 

           Pecador como Caifás,

          Demónio num barco de madeira,

          Que nom deixa entrar uma cadeira.

EU     Cuidas que com ele remarás?

PAGE Se entrardes em tal barca, morrerás

          E a quem odiais, rezarás louvores.

          Cuidais-me numa vida de dores?

          Vade retro Satanás!…

 

EU     E quando é que se avia

          E se livra deste cais?

PAGE Per Deos, por quem me tomais?

EU     Por Vossa Senhoria

          Humilde membro da burguesia

PAGE Pois i vos enganais.

          Nobres eram meus pais.

          Príncipes da tirania.

 

EU     Sois vós, então, da Nobreza?

PAGE Como irmão fui mal-amado,

          E de minha família fui rejeitado…

          E fiquei nesta pobreza.

          Nem conquistei nenhuma duquesa.

EU     Peço vos muito obrigado.

          Este momento será recordado.

PAGE Disso tenho a certeza…

 Tiago Quintas, nº19, 9ºC

0 comentários:

Enviar um comentário

Me Gusta Leer

A propósito de Poesia...

Visita ao Museu Romântico no Porto

Análise de Cartazes Publicitários

Maçã - 8º A

Maçã - 8º A

Vídeo do conto « Arroz do Céu», de José Rodrigues Miguéis.

Conto de Natal

Fábulas Ilustradas

Contos Populares

Literatura Tradicional

A Fábula « A Cigarra e a Formiga » da Walt Disney